segunda-feira, 25 de abril de 2011

Graça, Somente a Graça



Graça, Somente a Graça
(Isaías 55.1-2; Efésios 2.4-9; Romanos 3.21-26)
1) Um mundo sem graça.
Ver o texto de Isaías é deparar-se com um contrassenso:
“Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e vós, os que não tendes
dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem
preço,vinho e leite. Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão,
e o vosso suor, naquilo que não satisfaz? Ouvi-me atentamente,
comei o que é bom e vos deleitareis com finos manjares.”
(Is 55.1-2).
Pois o anúncio de “vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço” confronta com
nosso mundo onde tudo tem preço, e frequentemente altos preços.
Mas, mesmo nos tempos de Isaías, o povo pagava um alto preço por tudo, pois viviam em
cativeiro na Babilônia. Nada era de graça, mas, antes, custava a eles muito suor e dor, sem que ficassem
satisfeitos.
Na verdade, o mundo presente, à semelhança do mundo de Isaías, é um mundo sem graça. Tudo
custa um preço, e várias vezes alto. Estamos no tempo da não-graça. Hoje em dia, quando anunciam
coisas de graça, nós desconfiamos e pensamos: O que está por trás disso? E é verdade: mais cedo ou
mais tarde, nós vamos pagar. Sim, graça como anuncia Isaías no Antigo Testamento, e Jesus e Paulo no
Novo Testamento, não existe na nossa sociedade. Isso transforma a Igreja na grande depositária da
graça; esta herança bíblica é o centro da mensagem cristã para um mundo, onde tudo tem um preço,
onde graça é escassa, quase ausente.
Neste mundo, o mais frequente é o oposto da graça, ou seja, a desgraça. Basta ligar a televisão,
abrir um jornal, ou caminhar pelas ruas das nossas cidades. É mãe que joga bebê recém-nascido no rio, é
político recebendo propina, desviando dinheiro público e ainda dando as mãos a cúmplices e orando a
Deus. Acontecimentos como terremotos desgraçam povos, instituições caem em desgraça, pessoas se
tornam “persona non grata”.
Como falta graça neste mundo em que vivemos.
2) Uma Igreja sem graça
Como, bispo? A Igreja pode ser despossuída da graça? Infelizmente, sim! Isso pode ser
percebido nos movimentos religiosos: Igrejas onde orações custam preço. Artistas Gospel, se não forem
pagos não cantam. “Milagres” que custam caro. Conceitos cristãos deturpados em nome de uma
prosperidade, que toma o lugar da cruz e da graça. Sim, lamentavelmentem existem Igrejas destituídas
da Graça maravilhosa de Jesus. A frase de Jesus em Mateus 10.8 não vale para muitos.
“Curai enfermos, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expeli
demônios; de graça recebestes, de graça dai.” (Mt 10.8).
Em muitas Igrejas, não se vende a graça, mas o pecador ao se aproximar da Igreja não encontra
graça e seu fruto: o perdão e a salvação. Encontra: Culpa! Sim, condenação. Paul Tournier afirma que a
fé cristã mal dirigida pode esmagar e oprimir.
Reparto referência narrada por Philip Yancey em seu livro clássico Maravilhosa Graça. Nesse
livro, ele conta a seguinte história que ouviu de uma humorista da televisão americana: “Domingo
passado, vi na igreja a seguinte cena: havia uma criança que durante o culto olhava para os bancos de
trás e sorria para todas as pessoas. Até que a mãe, zangada com ela, disse: Pare de sorrir, você está na
igreja! E em seguida deu um tampa na menina, que começou a chorar. Ao que a mãe disse: Assim está
melhor! Ao que a humorista que assistia toda a cena disse: Esta não é a minha igreja!
Vou afirmar o lugar comum: A Igreja precisa ser um lugar em que todos são bem acolhidos. Sim,
um lugar de graça, amor e perdão.
Jesus mostrou no episódio da mulher samaritana que a Sinagoga não tinha graça para oferecer,
só pedras. Deus nos livre de perdermos a graça, e não nos darmos conta disto.
“Erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém mais além da mulher,
perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém
te condenou?Respondeu ela: Ninguém, Senhor! Então, lhe disse Jesus:
Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais.” (Jo 8.10-11).
3) Um Mundo que precisa da Graça
Recordo de um testemunho que li, não recordo onde, a respeito de um pastor que trabalhava com
viciados e homossexuais nas ruas de Chicago. Após fazer seu trabalho em um dos lugares mais sujos e
repleto de viciados, foi procurado por um jovem de aparência doentia e triste que queria conversar com
o pastor, ao que este, num impulso, o convidou para sentar num bar e tomar um café com ele. Depois de
ouvir a triste história do rapaz, que pelo vício se prostituíra, tornou-se aidético e foi rejeitado pela
família. O pastor estendeu a mão, tocou na mão do rapaz e com amor disse: “Eu sinto muito o que está
acontecendo com você.” Ao que o rapaz caiu num profundo choro incontrolável. Após se recuperar, o
pastor perguntou-lhe: “Por que você chorou?” Ao que o rapaz respondeu: “Desde que eu tive o
diagnóstico da AIDS há dois anos, ninguém mais tocou em mim como o senhor acaba de fazer.”
Eis aqui o que aconteceu no calvário: Jesus levou sobre ele nossos pecados, nossas dores e
enfermidades, e o toque da sua Graça revelada no Calvário nos cura, perdoa e salva. Eis uma mensagem
bastante relevante para o mundo atual anunciar que em Jesus:
“Sobreveio a lei para que avultasse a ofensa; mas onde abundou o pecado,
superabundou a graça, a fim de que, como o pecado reinou pela morte,
assim também reinasse a graça pela justiça para a vida eterna,
mediante Jesus Cristo, nosso Senhor.” (Rm 5.20-21).
João Wesley conseguiu sintetizar este processo, expondo o seguinte:
“Se então os pecadores encontram favor de Deus é “por graça sobre graça!” Se Deus ainda condescende em
derramar bênçãos sobre nós, sendo a salvação a maior delas, que podemos dizer a respeito dessas coisas senão:
“Graças a Deus por seu dom indizível!” Assim, deste modo, “Deus ordena seu amor para conosco em que sendo
nós ainda pecadores, Cristo morreu” para salvar-nos. “Sois salvos pela graça através da fé.” A graça é a fonte,
e a fé a condição de salvação.”
Em Cristo
Bispo Paulo Lockmann

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